Conteúdo de Interesse de Corações e Mentes


MENTE, CORPO E ALMA AO SABOR DO TEMPO

MENTE, CORPO E ALMA AO SABOR DO TEMPO

Saudações,

As palavras gregas soma e psique, ou seja, corpo e mente, dão origem ao termo psicossomática. Este termo muito em voga hoje, é da ordem de uma questão humana que vem de longe na História.

Na Bíblia, o livro sagrado mais difundido no Ocidente, temos que o homem foi construído do barro, barro este que em hebraico se fala adamá, daí o nome do primeiro homem ser Adão. Eva por sua vez nasceu de uma costela e aqui não entraremos no questionamento da Bíblia ter já desde então, colocado a mulher nesta posição inferior, visto que costela nada mais é do que apenas um osso e mesmo assim, são várias costelas no corpo., mas sim, de que a vida foi dada pelo sopro divino, animando estes corpos e deixando prontos para funcionar, ter sentimentos e emoções, inclusive, pecar, como aconteceu na história do casal que todos conhecem. Ou seja, desde a Bíblia podemos verificar que o corpo seria apenas um depositário de um algo maior, oriundo do Divino, que a partir do seu sopro o animou. Anima, palavra latina de onde derivou alma.
O corpo seria então apenas uma casca que conteria a alma, esta sim, associada às emoções, sentimentos, desejos... E com base na concepção religiosa do Cristianismo, este corpo nada seria, tanto que perece, ao contrário da alma, esta eterna, e passível inclusive, de sofrer castigos ou receber recompensas após a morte do corpo.
Na religiosidade radical medieval ocidental, a questão do castigo e recompensa para a alma se ampliou, sendo utilizada para acorrentar este corpo que a carregava, controlá-lo, enfim, domesticá-lo a serviço da boa ordem e manutenção do status quo vigente, o poder nas mãos dos reis e da igreja. Isto de certo proporcionou uma vida bastante limitada a todos aqueles que não faziam parte da elite. Como dizia Hobbes no seu livro Leviatã, de meados dos anos de 1600: a vida era solitária, pobre, desagradável, brutal e curta. Ou seja, a idéia de que todos os sacrifícios do corpo encontrariam uma recompensa, na vida eterna da alma que descansaria no paraíso, era no mínimo consoladora.
Só que os tempos foram seguindo e a modernidade valorizou mais o corpo, embora tenha passado a controlá-lo de outra forma, a partir das concepções liberais que deram impulso ao crescimento capitalista a partir da Revolução Industrial. O corpo passou a ser visto como uma máquina, assim como tudo no mundo, com seu funcionamento mecânico, bem a gosto das idéias vigentes da época. A Era do Mecanicismo, do Racionalismo, do Cartesianismo. O corpo funcionava assim como os relógios, como as alavancas. O corpo passara a ser uma máquina mas no entanto, Descartes dizia e isto ficou registrado em seu texto Lês passions, que dentro desta máquina, encontrava-se a alma, localizada precisamente na glândula pineal (a hipófise), que para ele era um órgão só existente no ser humano. Nascia daí um novo olhar para a antiga questão do corpo e alma, a relação entre corpo e mente. Res cogitans e res extensa, como dizia Descartes.
Para Spinoza, filósofo panteísta, ou seja, dizia estar Deus em tudo, alma e corpo eram apenas aspectos de um só algo divino, uma substancia divina diferenciadas. Esta substancia estaria presente em todo o Universo. Daí inclusive a idéia de imanência na concepção wiccan, onde o Divino não está em algum lugar específico mas sim, em tudo, em torno, e também dentro.
Mas a Ciência continuou sua jornada na busca de coisas mais palpáveis, longe das coisas filosóficas e religiosas. Após a descoberta da eletricidade, Mary Shelley, escritora inglesa, escreveu no início dos anos de 1800, o romance Frankenstein, onde a idéia do sopro divino dando a vida era desconstruida e no lugar deste sopro, a energia elétrica entrava em cena. Quem não conhece o romance, onde um médico dá vida a um cadáver construído por partes de diversos corpos a partir de uma descarga elétrica?
Estas descargas elétricas ocorrem no nosso cérebro através da comunicação das células cerebrais, ou seja, este corpo não mais depende de um sopro divino para funcionar, sentir, desejar mas sim, de conexões do sistema nervoso central, das elaborações cerebrais, etc...
Hoje a alma é um conceito da ordem meramente religiosa e como tudo que é da ordem religiosa, depende da crença... mas mesmo desaparecendo para a Ciência a alma, surgiu a mente, e esta ainda é um grande mistério. Daí as pesquisas cada vez mais profundas tentando descobrir locais no cérebro e conexões neuronais que possam explicar nossos sentimentos, emoções, desejos.... mas o mistério continua e talvez continuará durante muito tempo.... pois não pode ser a toa que tenha nascido com o ser humano a idéia da alma... nada é por acaso.
E assim segue o ser humano sempre na dualidade... corpo e alma, corpo e mente, assim como entre o bem e o mal, amor e ódio, tristeza e alegria ... sempre dois lados de uma mesma moeda chamada Vida.
Só para registro e reflexão.

Fecha o pano.